quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Caro Pedro

Meu amigo Pedro,
Hoje é o dia de minha morte, e por mais que queira evitar, sinto que não consigo.Peço-te que, com essa carta, conforte os meus familiares.De que não tenho medo do que pode me acontecer. Essa estádia de 42 anos ao lado de vocês foi incrível. Se, aqui nesta carta, fosse colocar tudo o que sorrimos, bebemos, choramos, fudemos e fumamos belos bairros durante a noite faltaria celulose no país. A maior inquietação que tenho é que irei morrer sem ter um sacaninha, um filho. Uma criança que, de certa forma, daria continuidade à minha obra, aos meus projetos. Embora, tenho a plena certeza de que por um acaso o tivesse com uma que servisse no papel desempenhado, raramente estaria presente. E mesmo quando estivesse estaria bêbado ou drogado. Um paradoxo.
As putas que chorarem no meu velório, Pedro, peço que você retire-as a tapas e pontapés. Nunca consegui comer uma sequer de graça, mesmo quando tinha comida certa em algum lugar da cidade. Venda meu carro. Não compre caixão. Aliás, compre! Mas um que seja bem fuleiro. Com o dinheiro da venda do carro tire uma parte para fazer uma noitada. Outra parte compre uísque. Black Label, se possível. 10 caixas de Black Label, isso!
Uma garrafa ofereça a Dionísio, o mestre. Quatro caixas do mel divino para os antecedentes do enterro.
Mas morrer e ser enterrado me causa intriga, um pavor. Faça o seguinte, Pedro: as seis caixas restantes, que iria lhe pedir para oferecer na porta do AA, - o que seria lindo - jogue em meu corpo e queime! Se for para morrer, então que eu me foda de vez!

Nenhum comentário:

Postar um comentário